segunda-feira, 22 de outubro de 2007

LIVRO ESPÍRITA : LITERATURA OU ENSINAMENTO

Ainda segundo Kardec, na psicografia semimecânica, o médium pode até estar consciente do fenômeno e perceber o influxo de idéias, mas seria incapaz de influenciar no texto, que basicamente lhe escorre das mãos. A escritora Zibia Gasparetto afirma se enquadrar nesse caso. “Durante meu transe, fico consciente, mas não percebo o que está acontecendo em volta. Fico totalmente concentrada na escuta da história: eles ditam muito rápido”, diz Zibia.

Já a psicografia mecânica é explicada pelo codificador da doutrina como aquela em que o médium escreveria sem sequer se dar conta do que está fazendo, incluindo-se aí a possibilidade de conversar com outras pessoas sobre determinado tema enquanto psicografa um texto completamente alheio ao assunto em pauta. Nesse caso, os médiuns permitiriam ao espírito agir diretamente sobre sua mão ou seu braço, sem recorrer à mente. Essa escrita era considerada preciosa por Kardec, por afastar dúvidas sobre o teor da mensagem. Os livros de Chico Xavier teriam sido psicografados dessa forma.

Em muitos casos, a parceria entre médiuns e espíritos é duradoura e muito prolífica. Os 48 livros de Vera Lúcia, por exemplo, teriam sido orientados por uma entidade que atende pelo nome de Antônio Carlos. “Mesmo quando psicografo com outro escritor, ele está sempre presente”, conta. “Devo muito a esse companheiro de tarefa”. Divaldo Franco atribui 56 de suas obras ao espírito Joanna de Angelis, que considera sua mentora espiritual.

Estilo polêmico

Até mesmo baluartes da literatura, já falecidos, podem ser encontrados no catálogo de autores das editoras espíritas. A lista de escritores que ditariam suas obras do além é tão vasta quanto eclética, incluindo figurões como Victor Hugo, Voltaire, Bocage, Dante, Goethe, Tolstoi, Castro Alves, Augusto dos Anjos e Olavo Bilac (veja matéria no volume 2, página 70). Esse ponto, contudo, é o que mais polêmico entre a comunidade não-espírita, sobretudo entre os profissionais do mercado literário “deste mundo”.

Para muitos críticos, a baixa qualidade, segundo eles, da suposta produção desses espíritos ilustres – que, em vida, deixaram apenas obras primorosas – atestaria que tudo não passa de auto-sugestão, quando não de pura fraude. “O Espiritismo é uma religião que tem uma forte tradição escrita, o que necessariamente não se reflete numa tradição literária”, afirma Paulo Werneck, um dos responsáveis pela triagem das obras publicadas pela editora Cosac Naify.

A bem-humorada opinião do crítico fluminense Agripino Grieco resume o ponto de vista da crítica literária brasileira a respeito do assunto. Grieco costumava dizer que a psicografia era a prova cabal de que a morte faz muito mal ao estilo de um autor.Embora não tenham explicações para esse possível fenômeno de putrefação do estilo após a morte, a maioria dos autores espíritas afirma que esta seria uma discussão irrelevante, fruto apenas da descrença. "O que a crítica diz dos livros que recebi não me preocupa, pois o público sabe que essas obras são poderosos agentes de transformação. Recebo centenas de mensagens de pessoas me dizendo que determinado livro mudou sua vida porque as ajudou a pensar diferente", afirma Zibia Gasparetto.

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