quarta-feira, 29 de julho de 2009

PINTOR CEGO CONFRONTA CIÊNCIA E A VIDA



O jornalista Milton R. Medran Moreira trouxe, na edição impressa do jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), um artigo interessante, propondo uma interpretação filosófico-espírita para o fenômeno do pintor turco cego nascença, Esref Armagan. A história, revelada pela Discovery Channel, vem de Ankara, a Turquia, país no qual Esref nasceu cego, há 53 anos, e onde é comparado ao arquiteto Filippo Brunelleschi, por dominar a difícil arte da perspectiva. Ele pinta casas, barcos, pássaros e borboletas, embora ele nunca tenha visto de fato quaisquer destas coisas. Ele pinta com cores vivas, embora jamais tenha visto cor, luz ou sombra. Durante os anos, Armagan desenvolveu os próprios métodos dele por criar a arte e ninguém o ensinou ou descreveu que técnicas para usar. Ele começou com lápis e antes dos 18 anos estava pintando com os dedos, primeiro em papel e depois em telas comuns. Hoje em dia, ele trabalha principalmente com acrílico de secagem rápida.

Depois de exibir seu trabalho em mais de vinte exposições na Turquia, Holanda, a República Tcheca e China, Armagan surpreende os estudiosos ao colocar em xeque nosso conhecimento de quanto as pessoas cegas podem entender sobre nosso plano visual. O psicólogo John Kennedy, diretor de Ciências de Vida na Universidade de Toronto, pesquisa a psicologia de percepção e cognição em pessoas cegas, e submeteu o artista a bateria de testes nos quais ele puxou uma série de objetos sólidos, inclusive um cubo em perspectiva. Testes adicionais, no laboratório de Neuroscience de Universidade de Harvard, demonstraram que Armagan misteriosamente ativou seu córtex visual, recrutando-o através de outros sentidos. Como último desafio, o médico levou o pintor à Itália para confrontá-lo com a obra-prima da perspectiva de Brunelleschi, o Batistério de Florença. E Armagan novamente surpreendeu, reproduzindo com outros sentidos (e em perspectiva), as formas do prédio à sua frente, que jamais viu, mas que "visualizou" somente por meio de uma maquete.

Esta história surpreendente revela que o cérebro tem o potencial para se adaptar, de acordo com as necessidades individuais. A habilidade do cérebro para reorganizar suas funções baseado em informação nova e experiências estão definidas como plasticidade de neural.
Pois é nesta perspectiva que entra a análise de Milton Medran, que explica o fenônemo a partir de uma frase conhada por Aristóteles : "nada está no intelecto que não tenha primeiro passado pelos sentidos". Ou seja: é pela visão, pelo tato, pelos sentidos corporais, enfim, que adquirimos o conhecimento. Sem experienciar, nada aprendemos. E é assim que nasceu a arte de Armagan, que toca nas flores, nas plantas, nas pessoas e, depois, reproduze-as.

Para o jornalista, porém, "o pintor que nasceu sem os olhos nem sempre teria sido cego. Sua alma, antes de aprisionar-se ao corpo, percebera e retivera as imagens que hoje pinta mesmo sem as ver. Para os neurocientistas, no entanto, há um campo no cérebro onde se formam as imagens captadas pela visão. Quem não enxerga, como Esref, pode suprir isso com os outros sentidos, especialmente o tato, formando, naquela mesma área cerebral, as imagens que consegue reproduzir em tintas com seu pincel".

Minton Medran, que também é diretor de Comunicação Social do "Centro Cultural Espírita de Porto Alegre", conclui que o mistério por trás do "inexplicado" encontra justificativa na lei das vidas sucessivas e pelas reminiscências que delas guarda a alma ou espírito. "Uma lei em tudo racional, capaz de interpretar o fenômeno Esref. Mas para aceitá-la será preciso enfrentar dois dogmas da pós-modernidade: o de que a alma não existe, e o de que se, vá lá, possa existir, é coisa que deve ser aprisionada no quarto escuro do mistério e da fé", finaliza.

terça-feira, 28 de julho de 2009

A FELICIDADE É UMA PERGUNTA SEM RESPOSTA

Essa é uma pergunta que já tirei há muito tempo da cabeça, justamente porque não sei respondê-la. Não sou o único. No decorrer de todos estes anos, convivi com todo tipo de pessoas: ricas, pobres, poderosas e acomodadas. Em todos os olhos que cruzaram com os meus, sempre achei que estava faltando algo. Algumas pessoas parecem felizes: simplesmente não pensam no tema. Outras fazem planos: vou ter um marido, uma casa, dois filhos, uma casa de campo. Enquanto estão ocupadas com isso, são como touros em busca do toureiro: não pensam, apenas seguem adiante. Conseguem seu carro, às vezes conseguem até sua Ferrari, acham que o sentido da vida está ali, e não fazem jamais a pergunta. Mas apesar de tudo, os olhos traem uma tristeza que nem estas pessoas sabem que tem.

Não sei se todo mundo é infeliz. Sei que as pessoas estão sempre ocupadas: trabalhando além da hora, cuidando dos filhos, do marido, da carreira, do diploma, do que fazer amanhã, o que falta comprar, o que é preciso ter para não sentir-se inferior, etc.

Poucas pessoas me disseram: “sou infeliz”. A maioria me diz “estou ótimo, consegui tudo o que desejava”. Então pergunto: “o que lhe faz feliz?” Resposta: não há resposta. Mudam de assunto. Mas sempre existe algo escondido: dono de empresa que ainda não fechou o negócio que sonhava, a dona de casa que gostaria de ter mais independência ou mais dinheiro, o recém-formado se pergunta se escolheu sua carreira ou a escolheram por ele, o dentista queria ser cantor, o cantor queria ser político, o político queria ser escritor, o escritor quer ser camponês.

Posso apostar que todo mundo está sentindo a mesma coisa. Folheio as revistas de celebridades: todo mundo rindo, todo mundo contente. Mas como freqüento este meio, sei que não é assim: está todo mundo rindo ou se divertindo naquele momento, naquela foto, mas de noite, ou de manhã, a história é sempre outra. “O que vou fazer para continuar aparecendo na revista?” “Como disfarçar que já não tenho dinheiro o suficiente para sustentar meu luxo?” “Ou como administrar meu luxo fazê-lo maior, mais expressivo que o dos outros?”

Enfim, fico com os versos de Jorge Luis Borges: “Já não serei feliz, e isso não importa/ há muitas outras coisas neste mundo”.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

CHICO XAVIER: ACOMPANHE O DIA-A-DIA DAS FILMAGENS

No mês passado (dia 30/06) o movimento espírita marcou o sétimo ano sem a presença de Chico Xavier, morto durante as comemorações da Copa do Mundo de 2002, vencida pelo Brasil. E o aniversário de morte do médium coincidiu com o início das filmagens do longa, dirigido por Daniel Filho. As primeiras cenas foram rodadas neste fim de semana no Rio de Janeiro e seguem por Minas Gerais e São Paulo. “Chico Xavier” tem previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2010, justamente o ano de seu centenário.Dois conhecidos atores se revezam no papel principal. Ângelo Antônio vai reviver Chico em sua versão jovem e Nelson Xavier, na fase como o já consagrado médium brasileiro. Quem assina o roteiro é Marcos Bernstein (de “Central do Brasil”), baseado no livro "As Vidas de Chico Xavier", do jornalista Marcel Souto Maior. Veja aqui entrevista completa com o diretor Daniel Filho e o ator Nelson Xavier.

“Desde o início, Marcos encontrou o tom da narrativa e soube traduzir a força e a complexidade do personagem, um homem idolatrado por milhões de brasileiros e questionado ou menosprezado por outros tantos”, explica Marcel. Aos céticos, o jornalista (que não é espírita) adverte: "Chico acreditava na própria mediunidade e sua fé transformou – e salvou – vidas por todo o Brasil. Isso é o que importa”. Um dos religiosos mais amados do país, Chico psicografava mensagens e retransmitia as palavras de esperança e consolo que recebia dos espíritos. São exatamente essas cartas originárias do além a prova de que o médium participava de fenômenos que vão além da normalidade.

“Chico Xavier merece todo nosso respeito por tudo que ensinou durante sua vida. Podemos classificá-lo como um telepata extraordinário, um superparanormal, pois apresentava diversos fenômenos que classificamos como fora do comum. As cartas psicografadas por ele traziam uma riqueza de detalhes impressionante”, afirmou Rogelio Raquel, presidente do Instituto Nacional de Parapsicologia e Psicometafísica (INPP), com sede em Londrina (PR).

E para ajudar na divulgação do filme, seguindo a lição do diretor Fernando Meirelles, que revelou os bastidores de Cegueira (Blindness) em um blog, o diretor Daniel Filho e a diretora de mídias de internet, a cantora Olívia Byngton criaram o Blog Oficial Chico Xavier - O Filme, escrito pela jornalista Patrícia Paladino. Ela foi indicada por Marcel Souto Maior, autor do livro "As vidas de Chico Xavier", para acompanhar, passo a passo, os bastidores de Chico Xavier desde o início das filmagens. As fotografias são de Ique Esteves, que documenta diariamente o set de filmagens. O espaço mostra imagens dos bastidores, detalhes da produção e conta um pouco da rotina das pessoas que trabalham atrás das câmeras.

Para saber mais, acesse os links no final da postagem e veja abaixo vídeo com reportagem do programa "Fantástico", da Rede Globo, realizada em 1979, quando Chico Xavier diminuiu suas atividades por problemas de saúde.




Veja todos os canais para acompanhar o filme "Chico Xavier":

domingo, 26 de julho de 2009

"A VOLTA" : LIVRO TRAZ 'PROVAS' DA REENCARNAÇÃO






Na Segunda Grande Guerra, em missão ao longo do Pacífico, um piloto da Marinha americana foi abatido pela artilharia japonesa. Seu nome poderia ter sido esquecido e sua memória não passaria de uma cruz a mais no "Memorial dos Heróis de Guerra", em Washington, de não fosse pelas desconcertantes memórias de um menino chamado James Leininger. Filho único, James, à época com apenas 2 anos, começou a ter pesadelos quase todas as noites e acordar seus pais aos berros, debatendo-se em agonia, gritando frases como: "O avião está em chamas!" A partir de então, o pequeno James passou a transmitir informações detalhadas não apenas em seus pesadelos mas também desperto, enquanto brincava e desenhava, no dia-a-dia da família. Mostrava um conhecimento sobre aviões que jamais lhe havia sido transmitido, passou a revelar nomes e sobrenomes, dados geográficos e até mesmo o que (descobriram mais tarde) seria a designação de um porta-aviões da 2ª Guerra Mundial. Como James poderia deter tantas informações se ainda não estava em idade escolar? Seriam lembranças de situações vividas pelo menino que seus pais desconheciam? Seriam memórias de uma vida passada? Seria mesmo a reencarnação uma hipótese a ser considerada?

Muito poucas pessoas -- incluindo aqueles que conheceram piloto -- acreditam que James é o soldado reencarnado. Seus pais, Andrea e Bruce, naturalmente céticos, provavelmente eram as pessoas menos susceptíveis a acreditar em tal história. Mas ao longo do tempo, foram convencidos pelas evidencias de que seu filho teve uma vida anterior. Segundo eles, James precocemente demonstrou interesse por aviões (nada surpreendente para um menino americano). Mas quando completou dois anos, passou a ter pesadelos regulares e acordar gritando, pedindo socorro. Andrea diz que a mãe dela foi a primeiro a sugerir que James estava lembrando uma vida passada.

Certa vez, Andrea comprou-lhe um avião de brinquedo e mostrou ao filho o que parecia ser uma bomba na sua parte inferior. Ela diz que James a corrigiu, revelando o nome técnico do equipamento. Foi justamente quando os pesadelos pioraram, ocorrendo de três a quatro vezes por semana e Andrea decidiu estudar o trabalho da consultora e terapeuta Carol Bowman (autora de "O Amor me trouxe de volta"), que acredita que os mortos, não raro, renascem. Com a orientação de Bowman, eles começaram a incentivar James para compartilhar suas memórias e imediatamente os pesadelos começaram a tornar-se menos frequentes. James também começou a falar mais facilmente sobre seu passado, o que, segundo a autora, é comum em crianças até os cinco anos de idade. "Eles não tiveram o condicionamento cultural ou experiência suficiente nesta vida", disse ela.

Ao longo do tempo, o menino revelou detalhes sobre a extraordinária vida de um ex-combatente -- principalmente na hora de dormir, quando ele estava sonolento. Dizem que o James disse que o avião tinha sido atingido por japoneses e caiu. Contou também detalhes sobre missões, equipamentos utilizados por um avião tipo Corsair, sobre o porta-aviões do qual arrancou a partir ("Natoma") e o nome de alguém que voou com ele ("Jack Larson"). Após alguma investigação, Bruce descobriu que "Natoma" e Jack Larson eram reais. O "Natoma Baía" foi um pequeno porta-aviões, utilizado no Pacífico durante a Segunda Guerra; e Larson estava morando em Arkansas. A partir de então, desvendar esta história se tornou obsessão de Bruce, pai de James. Ele passou a pesquisar na Internet, consultar registos militares e entrevistar homens que serviram a bordo do "Natoma Baía".

Seu filho disse que tinha sido "abatido" em Iwo Jima. James também havia assinado um de seus desenhos da infância com a inscrição "James 3." Bruce logo descobriu que o único piloto da esquadra morto em Iwo Jima foi James M. Huston Jr e que sua aeronave tinha recebido uma rajada de balas no motor. Tais informações foram confirmadas por outro piloto, Ralph Clarbour, que fazia a retaguarda naquela operação de guerra e que pilotava ao lado de James M. Huston Jr. durante uma incursão perto de Iwo Jima, em 3 de março de 1945. Clarbour disse que o viu o avião do companheiro ser atingido por fogo antiaéreo. "Eu diria que ele foi atingido na cabeça, bem no meio do motor", disse ele.

Com tantas evidências, os pais passaram a acreditar que seu filho teve uma vida passada em que ele era James M. Huston Jr. "Ele voltou porque deve terminar alguma coisa, a qual desconhecemos." Mas Paul Kurtz, Professor da Universidade Estadual de Nova York em Buffalo, que dirige uma organização que investiga alegações paranormais, diz que os pais se "auto-enganaram". "Eles são fascinados pelo misterioso e eles construíram um conto de fadas", defende. Com o passar dos anos, as lembranças de James começam a desvanecer-se, mas sua paixão por aviões persiste."Ele parece ter experimentado alguma coisa que eu não acho que seja única, mas a forma como lhe foi revelado é bastante surpreendente", observa Bruce.

Apesar dos céticos, este tem sido considerado o caso mais documentado de reencarnação já estudado e a história é tão atraente que virou livro: "A Volta" (Editora BestSeller, 320 págs, R$.19,90) , escrito a seis mãos pelos pais Bruce Leininger e Andrea Scoggin Leininger e pelo romancista Ken Gross. Para saber mais, visite o blog do livro, que será lançado em agosto. E baixe aqui o primeiro capítulo de "A Volta".


sábado, 25 de julho de 2009

MINHA VIDA NO PRIMEIRO ANO DE SUA MORTE

Querida Alice, na semana que passou, acordei pensando em você. E, várias vezes por dia, me pegava com alguma cena sua na cabeça. Voltei à reportagem em que contei os últimos 115 dias de sua vida e percebi que completava um ano de sua morte. Você entrou no hospital para morrer em 15 de julho. Nesse dia, na cama asséptica do apartamento, você me pediu para tirar suas meias dos pés. Você nunca gostou de meias nos pés, sentia-se presa. E você não gostava de nada que lhe prendesse, porque muitas vezes se sentia aprisionada numa vida que não sonhou. Mas nos últimos tempos da doença, você sentia muito frio. Na cama do hospital, tirei suas meias e descobri que você estava morrendo com as unhas dos pés pintadas de cor de rosa. Dei um meio sorriso triste. Era tão você, morrer de unhas feitas. Quantas vezes me alertou que uma mulher só podia sair de casa bem vestida, maquiada, com brincos e de salto alto. Então, com os pequenos pés ao sol, você me olhou e disse: “Acho que a história que você está escrevendo sobre mim está chegando ao fim”.

Só naquele instante eu abarquei a grandeza do que você tinha me dado. Você permitiu que eu testemunhasse o fim da sua vida e contasse uma história que jamais leria. Você me deu a história de sua vida – e a de sua morte. Era minha a narrativa de sua existência, a marca escrita de sua passagem no mundo. Ninguém nunca havia confiado tanto em mim. “Eu vou escrever uma história linda sobre você”, eu disse. Foi nossa última conversa. Mais tarde, naquela mesma noite, você ainda acordou e perguntou se eu e o fotógrafo Marcelo Min havíamos comido. De novo, era tão você. Estar morrendo e preocupada se estávamos bem alimentados.

Era você a mulher que alimentava. A merendeira de escola que alimentou por décadas crianças famintas de comida e afeto nas escolas de periferia. O câncer – palavra que você nunca pronunciou – a impedia de comer, envenenava seu sangue. Então, você comia pela minha boca, me engordando com bolos e pães de queijo. E, dia após dia, enquanto lembrava dos cheiros da cozinha de sua mãe, no interior de Minas Gerais, me transmitia receitas, lambuzando-se de recordações. Naquelas conversas telefônicas de cada dia, você na sua casa, eu na revista, comíamos por lembranças. E, pelas suas memórias, minha vida povoou-se de sabores de um fogão de lenha desconhecido.

Na tarde de 18 de julho de 2008, seus olhos erraram pelo quadrilátero do quarto do hospital. Eram dois oceanos agitados de saudade salgada. Então a derradeira tempestade amainou e você fixou sua última cena.

No último sábado, completou-se um ano de sua morte. Eu comi uma feijoada por você. O arroz do restaurante estava como você gostava e, com paciência, me ensinou dezenas de vezes a preparar. A percepção de que a comida nos dá vida e metáforas foi algo que sempre nos uniu. Pela manhã, ao me vestir, eu hesitei diante de um par de tênis, tão mais confortável. Mas quando vi, estava enfiando nos pés um salto alto que você aprovaria. Por que você está tão arrumada?, amigos me perguntaram. Eu respondia com a metade de um sorriso secreto. Essa data era só nossa.

Ailce, aconteceu muito nesse ano. Um pouco mais até do que minha sanidade era capaz de suportar. Você sabe, a vida é sempre mais faminta do que supomos. Logo que a conheci, eu descobri que a narrativa da sua história seria a reportagem mais difícil da minha trajetória. Como fazer uma reportagem cujo fim era a sua morte? Só foi possível porque aprendemos a amar uma a outra. Você, a personagem de uma vida. Eu, a narradora de uma morte. Você morreu e eu contei a sua história. Apalpei cada palavra na busca daquelas que dessem a dimensão real de sua passagem pelo mundo. Como contadora de histórias reais, sempre que escrevo meu maior medo é reduzir a vida de alguém. Com você, essa preocupação pesava ainda mais sobre meus ombros doloridos, já que você nunca leria a escritura de sua vida. Eu precisava merecer em cada linha o poder amoroso que você tinha me dado.

Você acreditava em Deus, embora tenha brigado com ele em alguns momentos. Brigava porque acreditava. E porque não entendia como ele fora capaz de deixá-la morrer quando você finalmente planejara viver. Quando você havia jogado o relógio fora e dançava e viajava, os olhos bem abertos para não perder nada, devorando o ar em grandes bocados como se ele fosse acabar de repente. Espero que você esteja no lugar para onde acreditava ir. Eu, que sou bem mais cética, de algum jeito armei dentro de mim a convicção de que você leu meu texto e se reconheceu. Não há como saber se é uma fantasia que precisei criar. Só por essa vez, abracei o mistério sem questionar.

O que eu não adivinhava, Ailce, era que o luto por você seria tão prolongado. Eu sempre soube que não entramos na vida do outro impunemente. Sempre acreditei que uma reportagem só acontece, de verdade, quando transforma a vida do personagem e do narrador. Eu compreendia que ao entrar na sua vida você faria parte da minha para sempre. Ao contar sua história você estaria na minha. Mas eu não adivinhava que doeria tanto – e por tanto tempo.

Depois que você morreu, um caminhão atingiu o carro em que eu viajava, em seguida sofri um assalto com tiros e duas pessoas queridas receberam o diagnóstico de câncer. Em janeiro, perdi alguém que também amava, pela mesma doença. Em seguida, alguém que amo precisou me deixar. Seis meses depois de você morrer, eu não conseguia mais comer nem dormir. Perdi oito quilos. Eu estava encharcada de morte. Do fundo da minha fragilidade exposta, eu buscava sinais de que a vida persistia em algum canto. Mas era afogada pela névoa espessa dos tantos fins e quase-fins.

Em abril, retalhos de sol começaram a aparecer aqui e ali. E eu voltei a dormir uma noite inteira sem remédios. Eu havia entendido a grande lição que sua vida tinha me dado. Tinha compreendido o que sempre soube em teoria. Meses antes de conhecer você eu tive uma profunda experiência de meditação, em outra reportagem. A partir dela, comecei a viver a experiência, ao mesmo tempo brutal e libertadora, de que na vida só há uma certeza: a de que não temos nenhum controle. Mas essa, me parece, é a lição mais difícil de aprender. Pode levar uma existência inteira para entendermos a que talvez seja a maior de todas as verdades humanas. Ou podemos morrer sem alcançar a essência da matéria de que somos feitos.

A morte é essa falta de controle levada à máxima radicalidade. Qualquer pretensão de controle é ilusão. A vida é risco. Não há nenhuma garantia, como você aprendeu de forma tão dura. Apavorada com a doença, o acidente, o assalto, o abandono, a morte de quem amava, me parecia impossível dormir. Se acordada, vigilante, tudo isso acontecia à minha revelia, como eu poderia dormir? Toda vez que saía de casa me sentia na iminência de uma catástrofe.

A partir da sua morte, em seis meses todos os pesadelos de quem vive se materializaram em mim como vida vivida. Tomada de desespero, eu me agarrava a uma das tantas imagens famosas de Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.

Em alguns momentos dessa queda brutal no precipício da verdade, acho que até a coragem me faltou. Mas um dia, depois de tantas ilusões arrancadas de minhas entranhas como pedaços de onde brotava sangue vivo, eu finalmente entendi. A falta de controle sobre o vivido não é uma maldição. Ao contrário, ela nos liberta. Se não ficamos perdendo tempo tentando antecipar e planejar cada passo, podemos nos dedicar apenas a viver. Sem postergar, sem adiar, sem deixar para depois. Se é impossível controlar, para que gastar tempo tentando? O mais sensato é enfiar o pé no mundo, sabendo que vamos nos lambuzar. É a incerteza do que nos espera na próxima esquina o encanto da vida.

Analisei então, Ailce, os grandes e pequenos momentos da minha trajetória e descobri que os melhores capítulos haviam sido os inesperados, não os planejados. A filha que nasceu aos 15 anos, numa gravidez adolescente que tantos viram como tragédia, o professor que me mostrou que ser repórter era a melhor profissão do mundo quando eu já tinha decidido seguir outra profissão, o grande amor que apareceu numa festa que eu pretendia não ir porque estava com sono. Minhas melhores reportagens aconteceram quando tudo parecia dar errado. As histórias mais fascinantes que contei foram aquelas em que ouvi algo totalmente diferente do previsto. Se nos fechamos para o imprevisível, como a vida poderia ser menos do que um tédio? É o que ainda não sabemos, o que está para acontecer, que contém o germe da vida.

Quantas vezes não percebemos, depois de algum tempo, que a suposta catástrofe se revelou o melhor que poderia ter nos acontecido? Como a demissão de um emprego que detestávamos, mas achávamos que era preciso manter porque nos garantia segurança. O casamento que nos aniquilava, mas que pensávamos ter de segurar porque era garantido. A viagem de férias para o mesmo lugar para não nos arriscar nem mesmo à possibilidade de algo novo acontecer. Todas aquelas coisas que soam seguras, mas que matam nosso desejo.

O que aprendi com sua vida e sua morte, Ailce, é que a segurança não é uma bênção, é um perigo. Ter maturidade, tornar-se adulto, não é, como tantos dizem, acatar o manual, seguir o rebanho, fugir do risco. Ao contrário. A sabedoria é abraçar o risco, aceitar a impossibilidade de controlar a vida como possibilidade, compreender que só o inesperado pode nos levar a algum lugar. O planejado é o território do previsível, se já sabemos o que vai acontecer, qual é o sentido? O que ganhamos indo sempre ao mesmo lugar, do mesmo jeito, evitando qualquer surpresa? O melhor do humano é a capacidade de se espantar. É pelo espanto que tudo se inicia.

Na semana que passou, quando um tempo inconsciente assinalou dentro de mim o primeiro ano de sua morte, eu atendi ao chamado de uma reportagem daquelas impossíveis de prever o quanto vai exigir de mim. Bati na porta de uma vida e entrei num mundo que vai me revirar pelo avesso. Desde que vivi com você a sua morte, minha alma em carne viva tocava a dor do outro e recuava. Dava os primeiros passos e voltava para trás. Dentro de mim, as cicatrizes ainda eram frágeis e se abriam ao primeiro toque. No primeiro sinal de sangue, eu corria.

Precisei de muito mais tempo do que imaginava para viver meu luto por você, para aceitar a sua morte e todo o imponderável da minha vida que ela continha. Para entender, de verdade, a frase que você me disse no nosso primeiro encontro: “Quando eu tive tempo, descobri que meu tempo tinha acabado”.

Algo se libertou nessa semana dentro de mim. Você é parte da minha história, vive dentro de mim como de todas as pessoas que a amaram, nas células de todas as crianças que salvou da desnutrição. Mas agora vou me deixar viver – e deixar você partir. Parto também eu para todas as vidas possíveis que me esperam. De salto alto e batom vermelho, torcendo pelo desconhecido que me aguarda na virada de cada uma das esquinas do mundo.

Obrigada. Adeus.
Repórter especial de ÉPOCA e autora de A Vida Que Ninguém Vê,
(Arquipélago Editorial, Prêmio Jabuti 2007) e O Olho da Rua (Ed. Globo)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

MP INVESTIGA OBRAS DO MEMORIAL CHICO XAVIER

Procuradora da República com dois meses de atuação em Uberaba dá os primeiros passos em assunto que promete dar o que falar. A partir do surgimento de denúncia dando conta de supostas irregularidades na construção do Memorial Chico Xavier, a representante do Ministério Público Federal está tomando vários procedimentos.

Raquel Cristina Rezende Silvestre, que veio de Manaus para Uberaba, baixou portaria formalizando procedimento administrativo civil (nº 088/2009). Conforme consta no documento, as primeiras medidas seriam para “subsidiar futuras e eventuais medidas judiciais ou extrajudiciais”, ordenando várias medidas dentro do procedimento administrativo.

No primeiro ato nada consta quanto às irregularidades denunciadas, em maio, ao promotor José Carlos Fernandes por Leandro dos Santos Souza, diretor do Instituto Chico Xavier, relacionadas com a construção do memorial que leva o nome do líder espírita. Mas, a procuradora mandou ofícios ao filho do médium e à Biblioteca Nacional, enquanto ao Instituto Chico Xavier indaga apenas quem será o responsável pela administração do Memorial Chico Xavier.

Por sua vez, o odontólogo Eurípedes Humberto Higino dos Reis, filho do médium, recebeu oficio estipulando prazo de dez dias para que informe se há inventário dos bens pessoais e das obras de seu pai, bem como deve informar como se dá o acesso a esses bens e como estão armazenadas as psicografias de Chico Xavier.

Na portaria que instaurou o procedimento administrativo, a procuradora Raquel fez constar que tais diligências seriam para verificar a possibilidade de tombamento do imóvel em que residia o líder espírita, no Parque das Américas, como consta nos autos.

O Ministério Público Federal só foi acionado após conclusão do promotor José Carlos Fernandes de que não teria competência legal para apurar as denúncias levadas até ele pelo diretor Leandro Souza. A remessa dos autos foi feita em razão de o memorial estar sendo construído com dinheiro coletado através da chamada Lei Rouanet, de incentivo fiscal à cultura. No caso, empresas e pessoas físicas fazem a doação de valores que serão deduzidos do Imposto de Renda que deveriam ir para o “Leão”.

Quanto ao denunciante, em depoimento ao promotor de Justiça, Leandro levantou várias dúvidas quanto à construção do memorial, estimado inicialmente em R$ 3,3 milhões, mas que deve custar o dobro do orçado.

terça-feira, 21 de julho de 2009

CHICO XAVIER: COMEÇA NOVA FASE DA FILMAGEM

Longa-metragem de Daniel Filho tem estréia prevista para abril de 2010. As filmagens acontecem no Rio, Minas e no interior de São Paulo. Atualmente, o diretor Daniel Filho (da comédia “Se eu fosse você”) e uma equipe de quase 400 pessoas trabalham na filmagem do longa, que deve chegar aos cinemas no primeiro semestre do próximo ano. Letícia Sabatella, que interpreta a mãe de Chico Xavier, aproveitou um intervalo das filmagens para dar atenção aos fãs que apareceram no set em Tiradentes.

No filme, que começou a ser rodado há três semanas, o homem que ficou famoso por tentar se comunicar com espíritos será interpretado pelo ator Nelson Xavier, que atuou na novela "A Favorita" como Edvaldo. O elenco também conta com Letícia Sabatella, Giulia Gam, Tony Ramos, Christiane Torloni, Giovanna Antonelli, Cássio Gabus Mendes, Cássia Kiss e outros. “Depois da primeira cena vai fácil”, diz Giulia Gam, que interpreta Rita, tia de Chico Xavier.

As filmagens, que já passaram pelo Rio e Tiradentes, em Minas, seguiram nos últimos dias para Paulínia, no interior de São Paulo. “Nós pintamos e bordamos em Tiradentes. Interrompemos ruas, pintamos casas, pedimos silêncio nas horas mais alegres, fizemos barulho nos momentos mais calmos, e a população inteira entendia”, conta o diretor sobre a temporada na cidade mineira.

Quem assina o roteiro do longa é Marcos Bernstein – que escreveu “Central do Brasil” - , baseado no livro “As vidas de Chico Xavier”, de Marcel Souto Maior. O dia-a-dia da produção pode ser acompanhado no blog do filme.

Fotos: Ique Esteves/Divulgação

ATRIZ DIZ QUE É PROTEGIDA POR ANJOS

A atriz Cameron Diaz ("Jogo de Amor em Las Vegas") recentemente declarou que conta com a proteção de anjos da guarda e que eles estiveram presentes durante toda sua vida. Diaz afirma que desde a infância tem seus "protetores" e seu espírito é imortal.

"Acho que temos muitas vidas e nossos espíritos são eternos. Sei que tenho muitos anjos, que me guardam o tempo todo. Sei disso desde que eu era criança e sou muita grata por isso", declarou a atriz.

Enquanto se apóia nos anjos, a atriz está em cartaz nos Estados Unidos com o drama "My Sister's Keeper", dirigido por Nick Cassavettes, no qual ela aparece com um visual completamente diferente, careca. O filme conta a história de uma jovem que é concebida para salvar a vida de sua irmã mais velha, que tem câncer.

Também estão no elenco os atores Alec Baldwin (da série "30 Rock") e Abigail Breslin ("Pequena Miss Sunshine"). "My Sister's Keeper" deve estrear no Brasil no dia 25 de setembro.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

PESQUISADORES INGLESES INVESTIGAM EQM


Pesquisadores estão empregando técnicas engenhosas para solucionar o mistério da experiência de quase-morte (EQM). Seria realidade ou pura imaginação? Um hospital britânico se equipou com aparelhos eficazes para testar pessoas dadas como clinicamente mortas, mas que voltam à vida. Um cientista francês também desenvolveu um método próprio. Reportagem da AFP.

Artigos relacionados:
EQM : Explicações da ciência sobre a morte
O mistério da experiência fora do corpo


domingo, 19 de julho de 2009

CHICO XAVIER: ENTREVISTAS COM ATOR E DIRETOR

ENTREVISTA COM O ATOR NELSON XAVIER

Fantástico: Como é para você interpretar um dos maiores nomes do espiritismo brasileiro?

Nelson Xavier: O Chico Xavier está realmente transformando a minha vida, minhas opiniões, minhas crenças. Estou acreditando profundamente nas coisas que estão sendo reveladas a mim, e estou conseguindo alcançar uma posição crítica em relação a esse assunto. É uma emoção que está me conduzindo.

Você é espírita? Já vivenciou situações consideradas paranormais?

Não sou espírita, mas minha mãe era. Durante toda a minha vida isso foi familiar para mim. Minha mãe me chamava para o espiritismo, mas eu nunca a atendi. Já aconteceram fatos coincidentes e inexplicáveis comigo, mas não posso chamá-los de paranormais.

Como se preparou para o papel?

Em março, fomos para Uberaba, em Minas Gerais, na casa onde Chico morou, e para Pedro Leopoldo (cidade onde Chico nasceu). Lá tem recortes lindos. Delirei, queria morar lá. É um lugar de paz. Todos os lugares que ele frequentou são carregados de uma energia arrebatadora. Nessas visitas tive notícias de muitos colegas que visitavam o Chico.


ENTREVISTA COM O DIRETOR DANIEL FILHO

Como surgiu a ideia de filmar a(s) vida(s) de Chico Xavier?

Daniel Filho: Fui convidado por Bruno Wainer, há cinco anos atrás. Ele tinha adquirido os direitos do livro do Marcel Souto Maior “As vidas de Chico Xavier” e me ofereceu a sociedade para a Lereby (minha companhia) produzir. Tentei vários diretores e por um ou outro motivo acabava não dando. Finalmente o Rodrigo Saturnino me convenceu que além de produzir eu devia dirigir, em homenagem a Augusto César Vanucci, que era um espírita de quatro costados e amigo do Chico.

Você considera Chico Xavier uma figura paranormal?

Sem dúvida, vários fatos comprovadamente atribuídos a ele o classificam como paranormal.

Você já pensou como vai se comportar se acontecer alguma situação sobrenatural durante as gravações do filme?

Comprovadamente sobrenatural acho difícil. Não creio nisto. Mas, fazer um filme no Brasil é coisa meio sobrenatural. Realmente respondendo a pergunta, será ótimo para minha curiosidade! Mas sem duvida a "vibração" a favor que o filme tem recebido do publico tem sido algo que bate no coração. O mesmo não se pode dizer de patrocinadores.
Deixe uma mensagem para os seguidores de Chico Xavier no Brasil!

Não são restritos aos espíritas, os seguidores do Chico Xavier são ecumênicos. A mensagem de tolerância, amor, honestidade, humildade e alegria que ele nos deixou vale para todos os seres humanos. E é este filme que gostaria de conseguir fazer. Precisamos ver esta vida exemplar. Tomara que eu, a equipe, e o grande elenco reunidos consigamos passar a emoção que nos juntou neste desafio.

Daniel Targueta
A partir do programa Fantástico(TV Globo). Leia texto integral

EQM : EXPLICAÇÕES DA CIÊNCIA SOBRE A MORTE

Em 1991, Pam Reynolds, moradora de Atlanta, Georgia, teve uma experiência de quase morte (EQM). Reynolds se submeteu a uma cirurgia de aneurisma cerebral e o procedimento exigiu que os médicos drenassem todo o sangue de seu cérebro. Ela foi mantida literalmente com morte cerebral pela equipe médica durante 45 minutos. Apesar de ter estado clinicamente morta, quando foi ressuscitada ela descreveu coisas incríveis. Relatou experiências que teve enquanto estava morta, como conversar com parentes mortos. O mais surpreendente de tudo é que Reynolds conseguiu descrever aspectos do procedimento cirúrgico, como a serra de ossos usada para remover parte de seu crânio (em inglês) [fonte: Parker (em inglês)].

O que é extraordinário (embora não seja único) no caso de Reynolds é que se trata de uma combinação de experiência de quase morte e experiência fora do corpo (EFC). A ciência também progrediu na explicação desses estranhos fenômenos. Dois estudos sobre esses dois aspectos da experiência de Reynolds aconteceram em 2007. Cada um parece explicar como uma pessoa pode ter uma EQM, mas explicam experiências como as de Reynolds?

Near-death experiences
Courtesy StockXchng
Estima-se que aproximadamente 18% das
pessoas que ressuscitaram depois de ataques
cardíacos relataram experiências de quase morte

Aproximadamente 18% das pessoas trazidas novamente da morte após um ataque cardíaco disseram ter tido uma EQM [fonte: Time (em inglês)]. Muitos religiosos podem não se surpreender com essas descrições, mas a idéia de que a consciência e o corpo humano existem separadamente intriga a ciência. Uma pessoa com morte cerebral não deveria ser capaz de formar novas memórias - ela não deveria ter nenhum tipo de consciência, na verdade. Então, como pode algo além da metafísica explicar as EQMs?

Um estudo da Universidade de Kentucky rapidamente ganhou território entre os cientistas como possivelmente a melhor explicação para as EQMs. Os pesquisadores dessa universidade teorizaram que o misterioso fenômeno é, na verdade, um exemplo de disfunção do sono, invasão de movimento rápido dos olhos ou invasão MRO. Nesse distúrbio, a mente de uma pessoa pode acordar antes de seu corpo, tendo alucinações e a sensação de estar fisicamente solta do corpo.

Os pesquisadores de Kentucky acreditam que as EQMs são, na verdade, invasões MRO acionadas no cérebro por eventos traumáticos, como ataques cardíacos. Se isso for verdade, significa que as experiências de algumas pessoas após a quase morte são uma confusão por terem entrado rápida e inesperadamente em um estado de sonho.

Essa teoria ajuda a explicar o que sempre foi um aspecto complicado sobre as EQMs: como as pessoas podem experienciar visões e sons depois de confirmada a morte cerebral? A área em que a invasão MRO é acionada fica no tronco cerebral - região que controla a maioria das funções básicas do corpo - e ela pode funcionar independentemente da parte superior do cérebro. Então, mesmo depois de as partes superiores do cérebro terem morrido, o tronco cerebral pode continuar funcionando e a invasão MRO ainda pode acontecer [fonte: BBC (em inglês)].

Essa parece ser uma boa explicação para as EQMs, mas e as EFCs? Elas são a mesma coisa? Leia a próxima seção para descobrir as diferenças entre as experiências de quase morte e as experiências fora do corpo.

Josh Clark. "HowStuffWorks - A ciência explica a vida após a morte?". Publicado em 23 de outubro de 2007 (atualizado em 15 de janeiro de 2009) http://pessoas.hsw.uol.com.br/ciencia-vida-apos-morte.htm (20 de julho de 2009)

O MISTÉRIO DA EXPERIÊNCIA FORA DO CORPO

A teoria da invasão MRO para as esperiência de quase morte explica as aparentes alucinações que acompanham as EQMs, ao passo que outro aspecto continua sendo um mistério. Como uma pessoa pode ver seu corpo depois de ter morrido? Embora as experiências fora do corpo tenham sido, algumas vezes, relatadas como parte de experiências de quase morte, elas também podem acontecer sozinhas, indicando que são diferentes das EQMs.

Life after death
Foto cedida Dreamstme
Uma pesquisa mostra que diferentes partes
do cérebro podem ser responsáveis pelas experiências fora do corpo e pelas experiências de quase morte

Isso foi descoberto em uma pesquisa quase acidental. Para descobrir a causa dos ataques epiléticos (em inglês) de uma paciente de 43 anos, o neurologista suíço Olaf Blanke fez um teste de mapeamento cerebral usando eletrodos plantados no cérebro para determinar que área controlava determinadas funções. Enquanto uma região era estimulada, a mulher teve uma repentina experiência fora do corpo. Ela disse para Blanke que pôde ver seu corpo por cima [fonte: New York Times].

Blanke determinou que, ao estimular eletricamente o giro angular, uma parte da junção temporal parietal, ele poderia induzir EFCs. O que é extraordinário é que a paciente experimentou uma EFC a cada vez que seu giro angular foi arbitrariamente estimulado.

A qualquer momento o cérebro é atingido por informações. Como resultado, ficamos insensíveis às visões e sons em nosso redor, como o zumbido de uma lâmpada fluorescente. A junção temporal parietal (JTP) é responsável pela classificação e organização dessas informações em um pacote coerente.

A JTP também é a região que controla a compreensão que temos de nosso próprio corpo e de sua situação no espaço. Blanke acredita que um problema nessa região é o que causa as EFCs. Se qualquer uma das informações que está sendo classificada pela junção temporal parietal ficar cruzada, então aparentemente podemos nos desprender dos limites de nosso corpo - mesmo que apenas por um momento.

Tanto a teoria de Blanke como a da Universidade de Kentucky explicam as EFCs e EQMs, mas e quando juntamos as duas para uma explicação para experiências como a de Pam Reynolds? Isso ainda não responde como ela e outras pessoas se viram fora de seus corpos enquanto se encontravam em estado de morte cerebral.

As EQMs podem ser um resultado da invasão MRO, ativada no tronco cerebral, mas as EFCs são controladas por uma região da parte superior do cérebro, que está clinicamente morta quando as EQMs acontecem. Além disso, parece lógico acreditar que a parte superior do cérebro ainda precisa funcionar para interpretar as sensações produzidas pela invasão MRO acionada no tronco cerebral.

Mesmo que a combinação da teoria da Universidade de Kentucky e a de Blanke não explique as EQMs, isso não significa que elas estejam erradas. Pesquisas em uma área sempre levam a atalhos em outras. Talvez descubramos que uma função orgânica pode estar por trás das EQMs.

Se a neurologia aparecer com a explicação definitiva para as EQMs, o mistério ainda pode continuar. A ciência poderia explicar o "como", deixando o "porquê" sem resposta. Descobrir uma explicação para as EQMs pode abrir uma porta para o mundo metafísico, que poderia ser muito explorada pela ciência.

Como o físico dr. Melvin Morse escreveu, "o fato de as experiências religiosas (em inglês) serem baseadas no cérebro, não diminui seu significado espiritual. Na verdade, pode-se argumentar que as descobertas de substratos neurológicos em experiências religiosas fornecem evidências de sua realidade objetiva" [fonte: Morse (em inglês)].

Josh Clark. "HowStuffWorks - A ciência explica a vida após a morte?". Publicado em 23 de outubro de 2007 (atualizado em 15 de janeiro de 2009) http://pessoas.hsw.uol.com.br/ciencia-vida-apos-morte1.htm (20 de julho de 2009)

sábado, 4 de julho de 2009

VIDA DE CHICO XAVIER AGORA EM QUADRINHOS

Foi lançado pela Ediouro o álbum "Chico Xavier em Quadrinhos" (64 pags., 28 x 21, R$.19,00), que narra a vida do divulgador do Espiritismo no Brasil. Os autores são Rodolfo Zalla e Franco de Rosa. A obra conta, em quadrinhos, a infância humilde e sofrida de Chico Xavier na cidade mineira de Pedro Leopoldo, assim como o momento da descoberta da sua comunicação com os espíritos. Verdadeira lição de fé, o livro apresenta a jornada do médium eleito como um dos brasileiros mais importantes do século XX.

A editora colocou no ar um site para divulgar a obra, onde o leitor pode ter informações adicionais.

Abaixo, você pode acompanhar entrevista do quadrinista argentino Rodolfo Zana, falando sobre a obra. Com mais de 50 anos de carreira, Zalla conta o começo da carreira, a vinda para o Brasil e a censura durante a ditadura militar. Faça aqui download de um trecho do livro. E compre pela internet.

PALPITE ERRADO

Jovino era médium vidente. Percebia, freqüentemente, junto de si, simpático Espírito que se dizia seu protetor. Habituara-se a consultá-lo, em princípio a respeito de questões doutrinárias; depois, problemas pessoais; finalmente, a pretexto de qualquer assunto. Quando adquiriu um automóvel, motorista inexperiente, incorporou a ajuda do acompanhante espiritual a partir da sua indecisão, num cruzamento movimentado, quando este lhe falou, resoluto: "Vai que dá!"

E Jovino foi... Daí em diante, encontrou no mentor um eficiente "co-piloto". Em qualquer dificuldade no trânsito, aguardava o "sinal verde": "Vai que dá!"

Certa feita, transitava por estrada acidentada quando, no alto de uma encosta, avistou enorme caminhão que iniciava a descida do outro lado, em alta velocidade. Lá embaixo havia ponte estreita, com passagem para um veículo apenas. Jovino vacilou. Daria tempo para cruzá-la antes da chegada do caminhão? O mentor veio em seu socorro: "Vai que dá!"

Confiante, o médium pisou no acelerador e desceu a encosta imprimindo velocidade ao veículo. O velocímetro atingiu rapidamente a marca dos 100 quilômetros horários. No entanto, ao entrar na ponte, viu que o caminhão entrara, também, do outro lado! O choque, de conseqüências catastróficas, era inevitável! Jovino arregalou os olhos, apavorado, enquanto o mentor, ao seu lado, dizia-lhe, num murmúrio desolado: "Xii! Acho que não vai dar, não!"

* * *

Há "*mentores espirituais*" cuja sabedoria não vai além da ignorância dos consulentes. Estaremos à mercê de seus palpites sempre que vulgarizarmos o intercâmbio com o além, transformando-o em consultório de indagações pueris, relacionadas com assuntos sobre os quais nos compete decidir.

Richard Simonetti (livro "Atravessando a rua")