quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

DIZEM QUE ME MATEI OU QUE ESTAVA BÊBADO

“Vim só pra dizer que estou bem. Fiquei um bom tempo internado, cuidaram de mim, e depois que melhorei me contaram que eu tinha morrido.

Só me lembro que tava arando a terra pra plantar
o milho. O sol tava demais. Muito quente mesmo e de repente me deu uma zonzeira. Ficou tudo escuro e senti que ia perder os sentidos. Acho que caí e acho que o trator passou em cima de mim.

Nossa! Quanta aflição! Quanto desespero! A Sueli, minha mulher, parecia não acreditar. Primeiro ficou atordoada, depois viu que não podia fazer mais nada a não ser aceitar e criar nossas crianças. Ela chorou muito, sentiu muito medo e tirou forças de onde não imaginava pra dar conta de tudo sozinha.

Alguns diziam que eu me matei, que tava desgostoso da vida. Outros falaram que eu tava bêbado. Isso doeu na minha alma, me fez muito mal, mas depois de muito tempo entendi que o ser humano é assim. Uns se compadecem, outros querem pisar e ofender; outros não querem nem saber.

Hoje estou bem, mas com muita saudade no coração. Saudade das crianças que já não são mais crianças; da Sueli que venceu como uma verdadeira guerreira. Ela de vez em quando fala comigo, mas nunca reclamando, só contando os acontecidos.

Os meninos estão estudando e ajudam a mãe e isso me deixa muito feliz. Só não querem voltar pra roça. Vida dura na roça e ingrata por vezes. Colheitas que se perdem com a chuva, com a falta dela...

Mas a cada colheita perdida, a gente se unia ainda mais. Rezava e pedia a Deus para que a próxima fosse melhor. A Sueli era assim. Eu já ficava mais nervoso e tinha vontade de largar a roça e ir pra cidade. Ela achava que na roça as crianças eram mais felizes e não corriam tanto perigo. Ainda hoje ela pensa assim.

Queria deixar aqui meu abraço pra ela pras crianças e dizer que eu não tinha bebido e que não me joguei. Passei mal, desmaiei e quando vi já estava num hospital. Mas num hospital diferente. Onde ninguém me visitava, mas os que cuidavam de mim eram pessoas muito boas e caridosas. Quando tive alta e quis voltar pra casa, fui esclarecido da minha situação. E quando voltei pra ver minha família, a casa estava abandonada. Chorei muito e mais uma vez um irmão veio até mim e falou sobre a mudança.

Quando tive permissão, fui até eles e vi que estavam bem, pelo menos do jeito que podiam estar. Eu os acompanho e os visito sempre que posso. Como eu queria poder ajudar, mas hoje sei que posso fazer isso com minhas preces.

Um abraço a todos e que eles fiquem com Deus e em paz. Obrigado pela oportunidade.”

Assinado : Anízio

Nota da psicógrafa: O espírito comunicante refere ter
morado na cidade de Engenheiro Beltrão.

* Imagem meramente ilustrativa *

Data : Janeiro de 2008
Local : Sorocaba ( SP )
Médium : S.A.O.G.

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