segunda-feira, 20 de agosto de 2007

SONO E SONHOS

Um terço de nossas vidas passamos em repouso, dormindo.

Organicamente a nossa constituição biológica exige repouso sistemático, necessário a reorganização molecular, através de um procedimento inercial em todos os setores organizados da vasta rede funcional que nos serve. A esse repouso sistemático denominamos “sono”.

É muito importante a compreensão e o estudo do sono e dos sonhos para um conhecimento mais amplo do fenômeno da emancipação da alma e das experiências vivenciadas pelo Espírito neste estado de liberdade.

O sono, além das propriedades restauradoras da organização física, concede-nos possibilidades de enriquecimento espiritual através das experiências vivenciadas enquanto dormimos.

Isto porque, durante o sono, a nossa alma se irradia e emancipa-se parcialmente do vaso físico, podendo se movimentar livremente pelo espaço, encontrando todas as possibilidades de relacionamento com encarnado e desencarnado, vivenciando realidades cujos reflexos em maior ou menor intensidade, acabam ‘vazando’ para o nosso consciente, de forma intensa ou fragmentada, resultando em lembranças as quais denominamos de “sonhos”.

Na Revista Espírita de Dezembro de 1858, temos a seguinte matéria:

Pobres homens que poucos conheceis os fenômenos mais comuns que fazem vossa vida! Credes ser bem sábios, credes possuir uma vasta erudição, e a esta pergunta de todas as crianças: Que fazemos quando dormimos? O que são os sonhos? Permaneceis interditados. Não tenho a pretensão de vos fazer compreender o que vou vos explicar, porque há coisas às quais vosso Espírito não pode ainda se submeter, não admitindo senão o que compreende.

O sono liberta inteiramente a alma do corpo. Quando se dorme, se está, momentaneamente, no estado em que se acha de um modo fixo depois da morte.

Os Espíritos que são logo desligados da matéria em sua morte, tiveram sonos inteligentes; aqueles, quando dormem, juntam-se à sociedade de outros seres superiores a eles: viajam, conversam e se instruem com eles; trabalham mesmo em obras que encontram prontas quando morrem. Isso deve nos ensinar, uma vez mais, a não temermos a morte, porque morreis todos os dias, segundo a palavra de um santo.

É assim para os Espíritos elevados; mas para a massa dos homens que na morte devem permanecer longas horas nessa perturbação, nessa incerteza da qual vos falaram, aqueles vão, seja em mundos inferiores à Terra, onde antigas afeições o chamam, seja procurar prazeres talvez ainda mais baixos que aqueles que têm aqui; vão haurir doutrinas mais vis, mais ignóbeis, mais nocivas do que aquelas que professam em vosso meio.

E o que faz a simpatia na Terra não é outra coisa senão esse fato, que se sente ao despertar, de se aproximar pelo coração daqueles com quem viemos de passar oito ou nove horas de felicidade ou de prazer.

O que explica essas antipatias invencíveis, é que se sabe, no fundo de seu coração, que aquelas pessoas têm uma outra consciência que a nossa porque são conhecidas sem tê-las jamais visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença, uma vez que não se deseja fazer novos amigos, quando se sabe que existem outros que vos amam e que vos querem. Em uma palavra, o sono influi mais que pensais em vossa vida. Pelo efeito do sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos, e é o que faz que os Espíritos superiores consintam, sem muita repulsa, se encarnarem entre vós. Deus quis que, durante seu contato com o vício, eles possam ir se retemperarem nas fontes do bem, para eles mesmos não falirem, eles que vêm instruir os outros.

O sono é a porta que Deus lhes abre até os amigos do céu; é a recreação depois do trabalho, na espera da grande libertação, a liberação final que deverá devolvê-los ao seu verdadeiro meio.

O sonho é a lembrança daquilo que vosso Espírito viu durante o sono, mas notai que não sonhais sempre, porque não vos lembrais sempre do que vistes, ou de tudo o que vistes. Vossa alma não está em todo desenvolvimento; não é, freqüentemente, senão a lembrança de uma perturbação que acompanha vossa partida ou vossa reentrada, à qual se junta a do que fizestes ou do que vos preocupou no estado de vigília; sem isso, como explicaríeis esses sonhos absurdos que têm os mais sábios como os mais simples? Os maus Espíritos se servem também dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.

O sonho é a porta aberta pela qual se vislumbra o mundo espiritual e a dimensão que freqüentamos durante o repouso do nossa vaso físico.

Ademir Munhoz
(*) Ademir Munhoz é advogado, perito judicial e um estudioso da Doutrina Espírita. Palestrante e dirigente, atua na região de Sorocaba (SP) e, no dia 31 de agosto de 2007, proferirá palestra sobre o tema "Sono e Sonho", no "Centro Espírita Leonor", à rua Sevilha 67 (final da Avenida Nogueira Padilha), em Sorocaba.
Fonte: Livros dos Espíritos; Revista Espírita.

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