sexta-feira, 3 de outubro de 2008

BEZERRA DE MENEZES: FILME AINDA SURPREENDE


O braço brasileiro da produtora Twentieth Century Fox, entusiasmada com a performance do filme "Bezerra de Menezes: o diário de um espírito" nas bilheterias, pretende investir de forma mais consistente na produção e distribuição de filmes de temática religiosa. Encomendado aos diretores Glauber Filho e Joe Pimentel pela ong "Estação da Luz", a cinebiografia do médico kardecista cearense entrou no circuito em 29 de agosto e até o início desta semana tinha sido visto por cerca de 204 mil espectadores (veja acima entrevista do ator Carlos Vereza no "Programa do Jô").

A Fox Brasil comprou os direitos de distribuição de "Bezerra de Menezes" em julho deste ano, quando a comunidade espírita do país já tinha se mobilizado em torno do filme protagonizado por Vereza. Logo no primeiro fim de semana em cartaz, o longa foi assistido por 51.389 pessoas, atingindo uma média de 1.200 espectadores por cópia. Tal desempenho fez amadurecer entre os executivos brasileiros a idéia e reproduzir por aqui a experiência americana com a Fox Faith, divisão voltada para o lançamento de filmes de orientação religiosa nos Estados Unidos.

Médico e político de projeção nos tempos do Império, o cearense Adolfo Bezerra de Menezes morreu em 1900, aos 68 anos. Pioneiro na divulgação da doutrina kardecista no país, ele virou, depois da morte, um dos espíritos mais respeitados da literatura espírita. Apesar das críticas desfavoráveis, da narrativa arrastada e do tom documental, o filme de apenas 75 minutos deixou para trás lançamentos nacionais como "Os Desafinados", que traz famosos como Rodrigo Santoro no elenco e teve pouco mais de 120 mil espectadores desde a estréia, na mesma data. Se ultrapassar a marca dos 500 mil espectadores, a produção ficará entre os três filmes brasileiros de maior bilheteria neste ano.

Bezerra de Menezes passou de um circuito de 49 salas de exibição para sessenta na semana passada. Ou seja: a procura aumentou graças à propaganda boca a boca. Ao contrário da maioria dos longas-metragens, tem atraído mais público aos cinemas às segundas e quartas, o que revela seu poder de atração sobre as classes C e D – nesses dias da semana, os ingressos custam mais barato.

A participação de Carlos Vereza não se resume ao papel de Menezes. Sua conversão ao espiritidmo se deu há dezoito anos, depois que ele sofreu um acidente na gravação de uma série da Globo. "O barulho de um disparo me fez perder parte da audição. Como não conseguia trabalhar, caí em depressão", conta. E completa: "Só me curei depois de passar por operações espirituais".

Bezerra de Menezes é um personagem histórico interessante. Oriundo de uma família nordestina abastada, ele conquistou renome como médico no Rio de Janeiro de dom Pedro II. Abolicionista, foi um deputado influente em seu tempo. Arriscou a reputação, contudo, ao tornar pública a adesão ao espiritismo – cuja prática, àquela altura, era considerada crime. "Com seus artigos em defesa da causa na imprensa e sua opção pela caridade, ele lançou as bases para o crescimento da religião no país", diz o antropólogo Emerson Giumbelli. Os admiradores chamam Bezerra de "Kardec brasileiro" – referência ao francês que fundou a crença.

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